Em Hamlet, Shakespeare nos ensina que estar pronto é tudo.

Creio que entender que nunca estaremos prontos é melhor ainda.

O diretor Gustavo Paso não é para os fracos. Ele sabe que nenhum personagem jamais será tão complexo quanto uma pessoa real. E que o trabalho do ator estará sempre incompleto. Por isso não desiste de buscar as múltiplas possibilidades de cada instante, de cada cena.

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Gustavo é um excelente diretor de espetáculos, mas como diretor de atores é que ele se torna maior. Quando um diretor sabe qual a função de um personagem numa cena, pode levar o interprete a experimentar diversos caminhos para que o personagem alcance seu objetivo.

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E Gustavo sabe muito bem. E se ainda não sabe vai acabar descobrindo. Cabe ao ator estar pronto para experimentar e, é claro, confiar na inteligência do diretor.

Nada melhor do que chegar no ensaio sabendo que o seu diretor passou a noite insatisfeito com o resultado do ensaio da véspera. Mesmo que tenha sido um excelente ensaio.

 

E que justamente por isso irá levar o ator a experimentar uma situação até encontrar o que é essencial. Cabe ao ator estar preparado para entender que talvez o seu trabalho permaneça sempre inacabado. Essa é a maior riqueza do nosso trabalho.

Bette Davis dizia que quando um ator interpreta uma cena exatamente da maneira que o diretor manda, isso não é atuar: é seguir instruções.

Gustavo nunca diz exatamente o que ele quer. Como todo bom ator sabe que nada se compara ao prazer de descobrir. Ele obriga você a descobrir.

Deixei os adjetivos para o final de propósito.

Gustavo Paso como diretor de atores é insaciável, insuportável, incansável. Enfim: irresistível.