
de Kusnet a Mamet
Mais que um paradoxo, a perspicácia de reconhecer
um encontro "de antagonistas" para a criação
de um caminho Autoral

O “Método de Desenvolvimento Artístico do Ator ns KasaKusnet” foi criado a partir dos estudos e experimentações durante os 20 anos de trajetória da CiaTeatro Epigenia.
Uma trajetória na qual foram realizados 27 espetáculos que percorreram quase a totalidade do território brasileiro.
Muitos com imenso sucesso de público, crítica, indicações e prêmios.
“Paso, um colecionador de sucessos”
Jornal O Globo – Janeiro 2017
O Método utilizado no trabalho foi estruturado a partir das técnicas de Eugenio Kusnet, associadas às teorias e práticas de David Mamet. O objetivo é que o ator possa descobrir que o tal “personagem” é um limitador de horizontes. A “criação de um personagem” nada mais é que o afastamento do artista da sua ilimitada capacidade de jogar.
Não existe tecnologia mais avançada que o Ator, pois ele é imensamente vasto e ilimitado. Precisa, no entanto, se livrar da ilusão intitulada “construção da personagem."
Um ator fingindo que é uma pessoa não é um personagem simplesmente porque um personagem não é uma pessoa. Um personagem é um elemento numa obra e a função desse elemento é AGIR em função dos objetivos que determinam uma série de ideias que, cena a cena, constituem uma peça teatral.
Quando os atores e as atrizes estiverem livres do vício de explicar a ausência de conteúdos que visam dar-lhes alguma base psicológica-estabilizadora, estarão preparados para entrar no jogo com o propósito de uma criação livre de “acordos mentais” que só servem para ocupar espaço mental e lhe tirar o foco do que é realmente importante.
Em Kusnet mergulhamos na Ação Física, na busca pela análise da Ação Cênica no ato teatral. O ator/atriz não estuda a personagem, não sabe dela anteriormente. Apenas recebe indicações pautadas no crescimento das improvisações e, passo a passo, vai criando suas cenas a partir do descobrimento livre de obstáculos psicológicos.
Em Mamet o ator/atriz tem que ser capaz de jogar “o jogo pelo jogo” que vai sendo determinado pelas palavras, sem “psicologismos” onde se agarrar.
Um jogo simples, porém desafiador porque é ilimitado. Para isso é preciso determinação intelectual para a análise dos objetivos.
Voltaire dizia que as palavras foram feitas para esconder os sentimentos. O teatro de Mamet é um teatro de palavras.
Uma cuidadosa alquimia entre os ensinamentos de Kusnet e Mamet garantem, desde que a crença seja absoluta, um resultado que se tornará orgânico para nossos artistas “criadores de personagens”.
Kusnet e Mamet aparentemente são homens de teatro de vertentes absolutamente opostas. Estudando, porém, a técnica de Análise Ativa de Kusnet e o embate peculiar de Mamet contra Stanislavski e seus seguidores, descobre-se um ponto de interseção que é a pedra fundamental de nossa Metodologia de Trabalho.
Para Mamet “não existe personagem”.
Para Kusnet, em sua Análise Ativa (que se baseia na improvisação como base do método), o início do trabalho se dá exatamente na crença e experimentação de que você não é um personagem; que você irá iniciar uma série de cenas “a partir de você”, ou seja, do “SE EU FOSSE”.
Nossa abordagem é aplicada, concomitantemente ou de maneira intercalada, no seguimento dos trabalhos com o texto; não só com as improvisações, mas também com boa parte dos ensinamentos de Mamet: o conhecimento dos objetivos do papel a ser desenvolvido.
Quando o Ator se preocupa muito com o caráter de um personagem e cria certezas, há sempre mais trabalho. O certo é que EXISTE PERSONAGEM SIM! Porém quem ele é será dito pelo espectador ao final de cada apresentação. Aí você, defendendo e buscando todos seus objetivos em cena, poderá se surpreender com dados que seriam impossíveis de ser criados numa sala de ensaio, pois eles são sentimentos. E se alguém sentiu algo a respeito do que você produziu em cena, fique certo que seu trabalho estará lá, em toda sua inteireza e dignidade.
A improvisação é a principal matéria-prima de criação do artista. Nela se encontra caminhos e ideias que sua cabeça pensante e controladora não permitiria encontrar, pois a racionalização da cena não tem o poder de descobrir caminhos novos, inéditos, desconhecidos.
Pode-se construir um personagem - esse termo é aceitável - desde que essa ideia não obstrua sua capacidade de criar. E, sobretudo, que nunca se esqueça de que a simplicidade tem um poder incrível. Pensando em termos objetivos: um personagem é alguém querendo convencer outro alguém de alguma coisa.
A maior parte do treinamento do ator se concentra em dissecar o texto. Pede-se aos atores que aprendam a ser "felizes", "tristes", "preocupados" nos pontos do texto ou performance em que o "personagem" parece estar. Este procedimento não é apenas desnecessário, mas é prejudicial para o ator e o público.
Gustavo Paso argumenta:
“Minha inclinação filosófica e minha experiência de trinta anos me ensinaram que não há nada no mundo menos interessante do que um ator no palco imerso em suas próprias emoções. O próprio ato de lutar para criar um estado emocional nele o tira do jogo.”
Um ator ao estudar uma cena deve identificar três pilares que sustentam as ações de seu personagem, e que lhe permite alcançar seus objetivos:
COMO ?
ONDE ?
POR QUE ?
Em Mamet o Ator, a cada cena, deve ser capaz de responder a três perguntas:
-
QUEM QUER O QUÊ DE QUEM?
-
O QUE ACONTECE SE NÃO CONSEGUIR?
-
POR QUE AGORA?